O nome dele não era Clark Kent. Nem Bruce Wayne, Peter Parker, Tony Stark ou Bruce Banner. Não. Absolutamente.
Chamava-se Gabriel. Gabriel Fontes. Não, ele também não era ianque: nasceu no Brasil, em São Paulo, Capital. Tinha vinte anos de idade. Era estudante de Administração; ralava o dia todo, estudando, trabalhando em um serviço de meio período e ainda arranjando tempo para fazer estágio e escrever sua monografia, para a conclusão do curso.
Não, Gabriel não foi mordido por nenhuma aranha radioativa ou geneticamente modificada. Não veio de outro planeta, nem se submeteu a testes do governo; muito menos tem dinheiro para investir em acessórios sofisticados ou veículos mirabolantes. Sem super poderes, treinamento árduo ou uniformes modernos. Um jovem comum, como você, eu, seu primo, seu amigo ou seu vizinho. Apenas mais um rosto na multidão paulista, a massa compacta de desconhecidos que marchavam lado a lado rumo a suas casas, seus trabalhos ou suas escolas. Pessoas comuns, num dia de correria comum. Nada de extraordinário até aí.
Transeuntes cruzavam seus caminhos sem ao menos se olhar nos rostos. A procissão infinita seguia por umas das ruas mais movimentadas da capital paulista. Gabriel seguia acompanhando essa multidão, misturado a ela. Era horário de almoço. Sol. Calor. Ar quente e estagnado, que tornava a respiração pesada, quase penosa. E Gabriel apertava o passo, consultando o relógio de pulso a cada minuto. Como todo mundo ali, tinha pressa. Precisava chegar logo em casa. Teria menos de vinte minutos para praticamente engolir o almoço e voltar para a correria cotidiana, versão vespertina. O suor porejava na sua testa. Estava quase correndo para atravessar uma rua antes que o semáforo para pedestres ficasse vermelho quando algo o fez estacar repentinamente. Sua atenção foi atraída para uma aglomeração incomum na mesma calçada onde ele se achava. Uma multidão que crescia gradativamente se formava a menos de dez metros do lugar onde se encontrava. Gabriel já sabia que não devia se tratar de coisa boa. Teve ímpetos de continuar seu caminho, mas a curiosidade foi mais forte e ele se juntou às pessoas paradas na calçada, que atrapalhavam a passagem dos outros pedestres menos interessados na vida alheia. A cena era a seguinte:
Contorcendo-se no chão quente, havia um homem de meia idade, muito bem vestido, urrando de dor. Ao lado dele, havia uma pasta preta, própria de empresários. As pessoas o tinham cercado, mas ninguém nada fazia para suprimir a dor do desconhecido. Os seres humanos infelizmente têm esse bizarro lado sádico: interessam-se pelo sofrimento de outrem, e contentam-se em assisti-lo, impassíveis. Gabriel, tenso, passou a língua pelos lábios. Sabia o que estava acontecendo, o homem no chão estava tendo um infarto. O pai de Gabriel era cardíaco, e o jovem já tivera por diversas vezes a infeliz oportunidade de presenciar ataques cardíacos devastadores, que só não tinham ceifado a vida de seu pai por milagre. O homem no chão devia receber ajuda imediatamente. A multidão apenas cochichava entre si, aparentemente penalizada. Muitos pareciam desorientados; até queriam ajudar, mas não sabiam como. Gabriel estava lívido.
Continua...
Danilo Alex da Silva
Olá, pessoal! Esse é um texto que senti vontade de escrever essa semana. Como é um pouco grande, decidi dividi-lo. Espero que gostem da mensagem. Ficaram curiosos para saber o final da história de Gabriel? Então, aguardem a continuação!
Bom fim de semana!
abraços