Já foi dito pelo Divino
Mestre que, se um homem soubesse a que horas o ladrão chegaria a sua casa, esse
homem se prepararia e não permitiria que seu lar fosse arrombado, e seus bens,
minados. O mesmo acontece com quem está prestes a cair de amores por alguém.
Porque, no fim das contas, o amor não passa de um ladrão.
Chega sem aviso em nossas vidas, sorrateiro,
traiçoeiro, imbatível. Para ele não há portas intransponíveis nem janelas que
não possam ser abertas, tampouco corações hermeticamente fechados. Para ele não
há fechaduras infalivelmente trancadas; ele simplesmente abre a porta que
desejar e entra.
Pega você desprevenido
e te faz refém. Torna seu coração irremediavelmente cativo. Rouba seu chão, seu
ar, suas certezas, suas convicções inabaláveis. Põe abaixo toda e qualquer
inexpugnável defesa que você tenha construído ao redor do seu coração machucado.
Invade seu refúgio, onde você sobrevive achando que cada dia é apenas mais um
dia, e que nem todo mundo precisa de alguém ao lado para ser feliz. Não há como
resistir, não há como lutar, nem evitar.
No fim ele sempre
vence. Rouba sua aparente serenidade, sua segurança, sua calma em escolher as
palavras. Leva embora tudo o que você tinha planejado dizer, deixando apenas o
frio na barriga e a voz travada na garganta.
Bagunça seus pensamentos e te obriga a enfrentar seus maiores medos. Ele
é o tipo de ladrão que te rouba o pára-quedas e te empurra porta afora de um
avião em pleno vôo, fazendo com que você caia rezando para criar asas antes de
atingir o chão.
Talvez seja o mais
perigoso dos ladrões, porque pode te assaltar em qualquer lugar: uma multidão,
uma fila de banco, um ponto de ônibus, uma banca de jornal, um banco de praça,
uma sala de espera de hospital. Pode te achar e te tocar onde, quando, como e
com quem for. Um elemento de alta periculosidade contra quem nunca estamos
concretamente seguros.
Por vezes sinto uma
ligeira pontada de inveja das pessoas que se aventuram mais quando abordadas
por esse ladrão que odiamos amar, ou amamos odiar. Porque, no fim das contas,
ele é o tempero, o sentido, o fim último de todos os caminhos e o definitivo
ponto de chegada de todos os viajantes.
Por isso, desative seus
alarmes interiores, desligue as cercas elétricas que muram seu coração e aja
com menos desconfiança para com esse etéreo e querido invasor chamado amor.
Faça isso e saiba que, assim que o maior dos ladrões sair pela janela do seu
coração, a felicidade há de entrar pela porta do mesmo.
Danilo Alex