segunda-feira, 27 de junho de 2011
O Escorpião e a Rã
Um dia a floresta pegou fogo. E incêndio não tem medo de rabo de escorpião. Só havia um jeito de fugir da morte: era atravessando o rio, para o outro lado. Os bichos que sabiam nadar pulavam na água, levando seus amigos nas costas. Mas o escorpião nem tinha amigos, nem sabia nadar. E não havia ninguém que se arriscasse a oferecer-lhe carona.
O escorpião, então, valentia e coragem sumidas ante o fogo que se aproximava, foi forçado a se humilhar. Dirigiu-se com voz mansa à rã, que se preparava para a travessia.
-Por favor, me leve nas suas costas - ele disse.
-Eu não sou louca. Sei muito bem o que você faz a todos que se aproximam de você - replicou a rã.
-Mas, veja- argumentou o escorpião- eu não posso picá-la com o meu ferrão. Se o fizesse, você morreria, afundaria, e eu junto, pois não sei nadar.
A rã ponderou que o raciocínio estava certo. Podia ser que o escorpião fosse muito feroz, mas não podia ser burro. Todo mundo ama a vida. O escorpião não podia ser diferente. Ele não iria matar, sabendo que assim se mataria... E, como tinha bom coração, resolveu fazer esta boa ação. -Muito bem. -disse a rã ao escorpião. -Suba nas minhas costas. Vou salvar sua vida...
O escorpião se encheu de alegria, subiu nas costas lisas da rã e começaram a travessia.
Que coisa -ele pensou- é a primeira vez que me encosto em alguém de corpo inteiro. Antes era só o ferrão... E até que não é ruim. O corpo da rã é bem maciozinho...
Enquanto isso, a rã ia dando suas braçadas tranquilas, nado de peito, deslizando sobre a superfície. -E como é gostoso navegar- continuou o escorpião , nos seus pensamentos. - estes borrifos de água , como são gostosos. É bom ter a rã como amiga...
Estavam bem no meio do rio. O escorpião olhou para trás e viu a floresta em chamas. -Se não fosse a rã, eu estaria morto neste momento. E um estranho sentimento, desconhecido, encheu seu coração: gratidão. Nem sempre veneno e ferrão são a melhor solução. A vida estava com a rã, macia e inofensiva que não inspirava medo em ninguém... Sentiu seu corpo descontrair-se. Achou que a vida era boa... Era bom poder baixar a guarda e descansar.
Voltou-se de novo para trás, para olhar a floresta incendiada. Mas, ao fazer isto, viu-se refletido, corpo inteiro, na água do rio que brilhava à luz do fogo. E o que viu o horrorizou: seu rabo, dantes ereto, agora dobrado, desarmado. Escorpião de rabo mole... Todos ririam dele. E sentiu um ódio profundo da rã.
-Espelho, espelho meu, existe bicho mais terrível que eu? A resposta estava naquele rabo mole, refletido no espelho da água. E a única culpada era a rã...
Sem um outro pensamento, enrijeceu o rabo e o enfiou nas costas da rã.
A rã morreu. E, com ela, o escorpião.
O mundo precisa de mais rãs e menos escorpiões.
Rubem Alves
Belíssima reflexão que quis compartilhar com vocês, meus queridos!
Semana abençoada a todos!
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Carta de um soldado desconhecido
Bilhete encontrado no bolso da farda de um soldado desconhecido, morto na Segunda Guerra.
O rapaz morreu atingido por uma granada. Inexplicavelmente esta carta foi encontrada intacta em seu bolso.
" Escuta Deus,
Jamais falei contigo.
Hoje quero saudar- te: Bom dia! Como vais?
Sabes? Disseram que tu não existe e eu, tolo, acreditei que era verdade.
Nunca havia reparado tua obra.
Ontem à noite, da trincheira rasgada por granadas, vi teu céu estrelado e compreendi então que me enganaram.
Não sei se apertarás minha mão. Vou te explicar e hás de compreender.
É engraçado: neste inferno hediondo achei a luz para enxergar teu rosto.
Dito isto já não tenho muita coisa a te contar.
Só que... que... tenho muito prazer em conhecer- te.
Faremos um ataque à meia noite.
Não tenho medo.
Deus, sei que tu velas...
Ah! É o clarim! Bom Deus, devo ir-me embora.
Gostei de ti, vou ter saudade.
Quero dizer, será cruenta a luta, bem o sabes, e esta noite pode ser que eu vá bater à tua porta!
Muito amigos não fomos, é verdade.
Mas sim... estou chorando! Vê Deus, penso que já não sou tão mau.
Bom Deus, tenho que ir. Sorte é coisa bem rara.
Juro porém que já não receio a morte... "
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Prece
"Ide tranquilamente entre o tumulto e a pressa, e lembrai-vos da paz que pode existir no silêncio. Sem alienação, vivei tanto quanto possível em bons termos com todas as pessoas.
Dizei calma e claramente vossa verdade, e ouvi os outros, mesmo o pobre de espírito e o ignorante; eles também têm sua história.
Evitai os indivíduos barulhentos e agressivos, eles são um insulto para o espírito.
Não vos compareis com ninguém: correríeis o risco de vos tornar vaidosos. Sempre há alguém maior e menor que vós.
Desfrutai vossos projetos, assim como vossas realizações, sede sempre interessados em vossa carreira, por mais modesta que seja: é uma verdadeira posse nas prosperidades mutáveis do tempo.
Sede prudentes em vossos negócios, porque o mundo está cheio de malícias.
Mas não sejam cegos no que concerne à virtude que existe: vários indivíduos buscam os grandes ideais e em toda parte a vida é repleta de heroísmo. Sede vós mesmos.
Sobretudo não simuleis a amizade! Tampouco sede cínicos no amor, porque em face de qualquer esterilidade e de qualquer desencanto, ele é tão eterno quanto a relva.
Aceitai com bondade o conselhos dos anos, renunciando com graça a vossa juventude.
Fortalecei a prudência de espírito para vos proteger em caso de infortúnio repentino. Mas não vos aborreçais com quimeras!
Numerosos temores nascem da fadiga e da solidão...
Para lá de uma disciplina sadia, sede ternos convosco mesmos. Sois filhos do universo, tanto quanto as árvores e as estrelas: tendes o direito de estar aqui.
E, percebais ou não, o universo se desenrola sem dúvida como deveria.
Estai em paz com Deus, qualquer que seja a vossa concepção Dele e, quaisquer que sejam vossas obras e sonhos, guardai no desconcerto ruidoso da vida a paz em vossa alma.
Com todas as suas perfídias, as tarefas fastidiosas e os seus sonhos desfeitos, o mundo é belo!
Prestai atenção:
Tratai de ser felizes."
(A viagem de Théo, Catherine Clément)
domingo, 5 de junho de 2011
E na sala de aula:
- Um, dois e três, venham ao quatro negro.
- Cinco muito, mas eu não seis.
- Sete-se. Que venha oito.
- Novemente?
- Dezisto!
(Anônimo)
Salve, galera! Desculpem o sumiço, estava sem internet. kkkkkkkkkkkkkkkk
Excelente semana a todos!
Forte abraço
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