segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Nevermore - por Matheus Freitas

Continuando nossa sessão de exposição do trabalho de meus talentosos amigos, trago hoje um poema estupendo do meu manolo Matheus Freitas, que, com essa releitura de O Corvo, com certeza encheria de orgulho o coração do velho Poe.

Tenho orgulho demais desses amigos talentosos!

Nevermore 


Brilha a lua na morte certa
Serena morte condenada vil
Gralha o corvo na lápide branca
Da pedra da lua


O mármore branco reluz
Na luzidia luz da brilhante lua branca reluzente
Cuja luz no mármore branco reluz


O corvo no mármore gralha o corvo
Sempre sendo curvado pelo vento norte-sul
A branca noite foge do escuro dia
Resta o mármore, nada mais, nunca mais.

Matheus Freitas





Esse é o meu amigo que soube recentemente ter sido aprovado no curso de Medicina e está realizando seu sonho!!! Parabéns, meu amigo!

Desejo a todos uma ótima semana!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Rato, O Gato e O Galo


Certa manhã um ratinho saiu do buraco pela primeira vez. Queria conhecer o mundo e travar relações com tanta coisa bonita de que falavam seus amigos.
Admirou a luz do sol, o verdor das árvores, a correnteza dos ribeirões, a habitação dos homens. E acabou penetrando no quintal duma casa de roça.
Examinou tudo, farejou a trilha do milho e a estrebaria. Em seguida notou um certo animal de belo pelo que dormia sossegado ao sol. Aproximou-se dele e farejou-o sem receio nenhum.
Nisso apareceu um galo, que bate asas e canta.
O ratinho por um triz não morre de susto. Arrepiou-se todo e disparou como um raio para a toca. Lá contou à sua mãe as aventuras do passeio.
- Observei muita coisa interessante, disse ele, mas nada me interessou tanto como dois animais que vi no terreiro. Um de pêlo macio e ar bondoso seduziu-me logo. Devia ser um desses bons amigos da nossa gente, e lamentei que estivesse a dormir, impedindo-me assim de cumprimentá-lo.
O outro... Ai, que ainda me bate o coração! O outro era um bicho feroz, de penas amarelas, bico pontudo, crista vermelha e aspecto ameaçador. Bateu as asas barulhentas, abriu o bico e soltou um co-ri-có-có tamanho que quase cai de costas. Fugi. Fugi com quantas pernas tinha, percebendo que devia ser o famoso gato que tamanha destruição faz ao nosso povo.
A mamãe rata assustou-se e disse:
- Como te enganas, meu filho! O bicho de pelos macios e ar bondoso é que é o terrível gato. O outro, barulhento e de olhar feroz e crista rubra, o outro, filhinho, é o galo, uma ave que nunca nos fez mal nenhum.

As aparências enganam: aproveita, pois, a lição e fica sabendo que quem vê cara não vê coração.

Monteiro Lobato

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Dias de Novembro



Dias de novembro
Incisivos, de tormento
Ligeiros como o vento.

Dias de novembro
Como incertos pensamentos
Equilibrando-se a contento.

Ah, os dias de novembro
Obscuro esquecimento
 De efêmeros sentimentos.           

Dias de novembro,
Cheios de gratidão e lamento
Ora tão plenos de cor,
Ora tão tristes, cinzentos...

Dias de novembro,
Morrem para gerar dezembro.
Eis um tempo que não tive...
E se tive, não me lembro. 

Danilo Alex da Silva




"Os dias correm, somem, e com o tempo não vão voltar. Só há uma chance pra viver"
(Chance, Rosa de Saron)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Morte do Leiteiro



Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.

Carlos Drummond de Andrade


sábado, 7 de janeiro de 2012

Transposição - por Lu de Farias

Como disse, tenho amigos que são grandes artistas!!! Apesar deste marcador estar desatualizado, hoje trago um belo texto da minha querida amiga Luziane de Farias.
Prestigiem!!!


"O relógio na parede marca um tempo irreal, alheio ao que dizem meus olhos.

O retrato na parede não me desperta lembranças.

A sala, há tempos, já não é a mesma. A parede mudou de cor. O perfume evanesceu e perdeu seu aroma. A vida mudou de lugar.

Os sonhos mudam de intensidade ao sabor das lágrimas.

Os olhos refletidos no espelho negam a verdade da alma.

Não há mais tempo para subverter os papéis. Não há mais razão para ignorar a realidade.

A vida mudou de lugar."

Lu de Farias





Quem quiser conhecer melhor o trabalho desta moça talentosa pode acessar o blog dela:

O relicário - ludefarias.blogspot.com

Excelente fim de semana a todos!

domingo, 1 de janeiro de 2012

Ao redor de ti

Quem diria que o luar traria você para mim?
Temendo a noite escura, me alegrei com a presença da lua
E descobri você, tão embevecida como eu, a fitar o céu.
Mal vi você, esqueci-me da lua
E do universo
E todo o resto, pois passei a orbitar
Ao redor de ti.


Danilo Alex da Silva