"Eu sou um castigo de Deus. E se você não cometeu grandes pecados, Deus não teria enviado um castigo como eu."
(Gengis Khan)
Sob a meia-luz do ambiente, o panorama a se descortinar diante de seus
olhos era tétrico: cadáveres por toda parte. Fregueses, coristas, o pianista...
Ninguém escapara da matança. Os fregueses estavam espalhados pelo
lugar, a maioria estendida no assoalho, mas alguns tinham morrido sentados e,
permanecendo às mesas, davam a impressão de ainda esperarem que o barman os
servisse, ou contassem com a abordagem de alguma corista mais ousada.
O pianista fora trucidado enquanto estava sentado ante seu instrumento,
de modo que se achava debruçado sobre as teclas manchadas com seu sangue, como
se dormisse um sono profundo. Havia coristas mortas perto do balcão, sobre as
mesas, nos degraus da escada, algumas atravessadas sobre o corrimão de madeira.
Uma delas, inclusive, estava presa ao lustre que pendia do teto, imóvel, e seu
sangue gotejava sinistramente no meio do salão.
E no meio do caos o homem divisou seu alvo.
A causadora de tudo se encontrava displicentemente sentada sobre o
balcão polido. Estava inclinada sobre o pescoço de um homem que agonizava com a
cabeça em seu colo. Parecia uma mulher apaixonada beijando seu amante. Contudo,
ouvindo a chegada do viajante, ela ergueu o rosto, esboçando um sorriso gélido:
sua boca, dentes e queixo estavam lambuzados pelo sangue da vítima, a qual era
nada menos que o barman do saloon.
Exatamente como Carson lhe adiantara, a garota aparentava por volta de
vinte anos. Era loura, cabelos longos e anelados, que usava soltos, descendo
pelos ombros magros. Possuía maliciosos e grandes olhos, negros como o
azeviche. O rosto era harmonioso, delicado e atraente, a despeito dos retráteis
caninos longos e afiados.
O sorriso era maldoso, cínico. A pele perfeitamente marmórea possuía a
alvura da cera, própria de quem nunca vê o sol. Media cerca de 1, 76 m, e seu
corpo era magro, conquanto uma magreza esbelta, elegante, nobre.
Trajava uma calça justa de montaria, uma jaqueta preta feita de couro
de bezerro, e calçava botas texanas de cano longo, repleta de ornamentos.
Parecia a versão sinistra de uma cowgirl.
A sombria jovem, por sua vez, também estudou atentamente o
recém-chegado: um homem alto e forte, rosto anguloso e viril, tez morena de
sol, dono de enigmáticos olhos cinza-esverdeados que irradiavam uma melancolia
profunda e insondável. O rosto marcante estava sombreado por uma espessa barba
por fazer. Tinha os cabelos castanho-escuros lisos e relativamente compridos. O
homem apresentava ser ainda jovem: apesar de seu aspecto descuidado que o fazia
aparentar mais idade, ele devia ter acabado de entrar na casa dos trinta anos.
Trajava calças de brim escuro, um sobretudo vermelho-sangue, botas
marrons de cano alto e esporas vermelhas. Trazia na cintura um par de Colts negros de grosso calibre. Um lenço
preto envolvia seu pescoço taurino, e suas mãos estavam revestidas por luvas de
couro que serviam tanto para montar quanto para atirar. A cabeça estava coberta
por um chapéu preto, amarfanhado, de abas largas meio dobradas e copa alta.
O homem recendia a enxofre, e sua postura não era nada amigável.
A garota sorriu com desdém:
- Ora, ora, ora! Quem diria? Um Renegado por estas bandas! Fazia um
bom tempo que eu não me deparava com algum de vocês. Boa noite, forasteiro! – o
inglês dela não chegava a ser sofrível, e não era exatamente perfeito, mas se
fazia compreender, mesmo com a fala carregada pelo inconfundível sotaque do
Leste Europeu.
- Nenhuma noite pode ser boa enquanto você ainda pisar neste mundo. –
rebateu o rapaz duramente – Eu não sabia que vocês, vampiros, existiam. Achava
que não passassem de lendas. Quando eu terminar o que vim fazer aqui, lendas
serão somente o que restará de você.
A loura riu sarcasticamente:
- Que cowboy pouco cavalheiro! Aposto que você não é lá muito popular
com as mulheres.
- Você não é uma mulher. – retrucou ele, rangendo os dentes – É uma
morta-viva.
- E o que o faz pensar que é diferente de mim? Um homem em pedaços,
dotado de poderes amaldiçoados que adquiriu ao vender sua própria alma ao
Diabo...
- Cale-se! – ordenou o Renegado de dedo em riste – Você não sabe nada
sobre mim. Não me conhece.
- Já conheço a ponto de perceber sua ingenuidade em acreditar ser
capaz de me aniquilar. Eu sou Lenora Von Born, meu rapaz.
Inesperadamente o homem soltou uma risada plena de escárnio:
- Esse nome deveria significar alguma coisa? Porque, para ser franco,
eu nunca ouvi falar. Para mim, você não passa de um alvo, e meus alvos não têm
nomes nem rostos.
A vampira sorria com superioridade:
- Uau! Você me parece mesmo um sujeito durão. Diga uma coisa, xerife:
posso ao menos saber o nome daquele que veio dar fim à minha existência?
- Se faz realmente tanta questão, me chamo Sean Ridell. Dentro em
pouco reduzirei você a cinzas, e saber quem foi seu carrasco não terá te
servido de nada.
- Atiraria então em alguém desarmado? – ela quis saber, fazendo-se de
vítima.
- Você não está desarmada. Se metade do que dizem sobre vocês for
verdade, as trevas são seu arsenal. É noite lá fora, você está em vantagem. Em
todo caso, se preferir, posso te oferecer um de meus revólveres.
- Detesto armas de fogo. – respondeu Lenora com uma careta de
desaprovação.
- Como quiser. Está pronta?
- Quer dizer que não podemos ser amigos?
- Exato. Quer dizer que vou matá-la, e vou matá-la agora.
O Renegado desviou-se uma fração de segundo da garrafa de uísque
arremessada de modo velocíssimo e preciso contra seu rosto. Enquanto procurava
entretê-lo conversando, traiçoeiramente a vampira, que estava sentada sobre o
balcão, rapidamente apanhara a garrafa e a jogara com toda a força.
Ouvindo o estilhaçar de vidros contra a parede atrás de si, Sean
Ridell se jogou ao chão com agilidade felina, rolando para escapar da segunda e
da terceira garrafa, que já voavam em sua direção, tão rapidamente quanto a
primeira, transformadas em perigosos projéteis pela força descomunal da
vampira.
Após rolar duas vezes pelo velho assoalho forrado de cadáveres, o
Renegado parou no centro do saloon: o joelho direito no solo, as mãos apontando
a um só tempo o poderoso par de Colts
Dragoon, os quais brotaram entre seus dedos como que num passe de mágica.
Roçou os gatilhos num gesto quase desleixado, totalmente despreocupado.
Dois tiros certeiros cruzaram o espaço. Tudo ocorreu indizivelmente
rápido.
O par de garrafas de tequila que Lenora empunhava pelos gargalos e que
pretendia arremessar contra o pistoleiro simplesmente foi reduzido a uma chuva
de cacos enquanto a vampira ainda as segurava. Rugindo de ira, ela viu-se
banhada pela bebida âmbar e teve seu belo rosto parcialmente lacerado pelos
estilhaços voadores das garrafas.
- Vou arrancar seus membros, sugar seu sangue, devorar seu coração, e
depois roer seus ossos! – prometeu Lenora com uma voz gutural, demoníaca, bem
diferente de seu timbre natural.
- Pode vir, cowgirl! – zombou o Renegado – Vamos ver se você é tão boa
de sela como diz!
Urrando como fera, a pavorosa garota se moveu muito rápido. Abastecida
pelo sangue que drenara dos habitantes ali de Gold Fortress, ela parecia
imbatível no auge de seus poderes.
Sem que Sean pudesse esboçar reação, a garota praticamente
materializou-se à sua frente, cravando brutalmente a sola da bota em seu flanco
direito, um palmo abaixo da axila. Foi um chute arrepiante.
Colhido pelo impacto alucinante, o Renegado viu-se projetado de
encontro ao outro lado do saloon, derrubando inúmeras mesas em sua queda. No
momento em que foi golpeado, ambas as armas escorregaram de suas mãos. Se fosse
um humano comum, teria sofrido morte instantânea.
Antes mesmo que se refizesse, Lenora já estava sobre si,
pressionando-o contra o chão. Ele sentiu uma dor excruciante na altura do
peito, e percebeu que a inimiga tentava arrancar-lhe o coração de dentro do
tórax. A criatura cumpriria seu intento
em segundos, caso não fosse impedida.
Segurando o fino braço dela com a mão esquerda, Sean usou o punho
direito para aplicar-lhe um violento soco no rosto. Lenora desorientou-se.
Aproveitando-se disso, ele usou ambas as pernas com força, fazendo delas uma
alavanca, a fim de catapultar para longe a adversária, fazendo-a voar em
sentido contrário ao seu.
Ao passo que a estupefata vampira se chocava ruidosamente contra a
parede, sem perda de tempo Sean Ridell se levantou tão habilmente como se
tivesse molas nos pés. Uma dolorosa fisgada do lado direito fê-lo levar a mão
ao local atingido. A respiração era difícil, o ar que entrava nos pulmões
queimava como fogo.
- A cadela me quebrou pelo menos três costelas. – chiou o Renegado,
furioso.
Lenora também já estava se levantando.
Raciocinando com rapidez, o homem viu seu par de Colts no assoalho. Então, ignorando a dor terrível, ele correu para
mergulhar em direção aos revólveres. Posicionando o corpo, ele se virou e
atirou do chão mesmo.
Lenora havia entendido o movimento inimigo e correu o mais rápido que
podia, convertendo-se em um borrão. Quando começou a ouvir as primeiras
detonações, ela uniu sua rapidez a habilidades acrobáticas, saltando quase dois
metros do chão e girando o corpo em manobras evasivas que impressionariam um
artista circense. Sua flexibilidade e destreza desafiavam a gravidade.
Entretanto, nem sua vertiginosa velocidade ou suas manobras
acrobáticas puderam salvá-la da fúria de um Renegado. Ele também fez uso de
seus poderes sobrenaturais, acurando sua pontaria e triplicando a velocidade ao
disparar. A linha de fogo seguiu Lenora implacavelmente pelo saloon. Ela ainda
desviou-se do terceiro e quarto tiros, mas o quinto encontrou seu corpo
enquanto ela ainda girava no ar. A bala fervente atingiu-a no ombro esquerdo,
varando e despedaçando a clavícula, saindo pelas costas em seguida.
Um jato impetuoso de sangue negro escapou do ferimento. Com um grito
angustiado, a vampira caiu.
Colocando-se de pé, comprimindo as costelas fraturadas, o Renegado
cambaleou rumo à presa ferida. Sangrando no assoalho, Lenora reuniu as forças
que ainda lhe restavam para metamorfosear-se em névoa. Passou pelo pistoleiro e
desceu a rua, reassumindo sua forma “humana” e tentando fugir.
Montando seu belo cavalo, de nome Pandemônio,
o Renegado seguiu os rastros de sangue escurecido. Sabia que ela não iria
longe.
No momento em que alcançavam os limites de Gold Fortress e começavam a
levar sua perseguição para o deserto, as primeiras grandes gotas de chuva
despencaram das nuvens pesadas. Apertando os olhos em meio ao temporal, do alto
de seu cavalo, Sean Ridell avistou Lenora à sua esquerda, avançando com
dificuldade, fugindo como um puma ferido.
Emparelhando com ela, o Renegado sacou o revólver e lhe explodiu a
rótula da perna direita. O trovejar da arma confundiu-se com o trovejar das
nuvens. A vampira tombou como um fardo, gritando, agarrando o ombro e o joelho
baleados.
Sean apeou do cavalo, sabendo que sua caçada estava chegando ao fim.
Engatilhou seu Colt místico,
aproximando-se da adversária caída. As costelas ardiam como o próprio inferno.
A chuva se tornava torrencial.
- Por que está fazendo isso? – gemeu Lenora ensanguentada,
encolhendo-se em posição fetal no chão arenoso.
- Porque você chacinou duas cidades inteiras, ceifando vidas
inocentes, incluindo a de um dos poucos amigos que me restavam: Carson Wayne,
xerife de Horizon.
- Seu amigo era um homem corajoso. – a vampira tremia, batia queixo,
talvez pela chuva intensa, talvez pela perda maciça de sangue. Ela não podia se
curar tão facilmente, pois a arma de Sean era mística, tinha sido forjada no
Inferno, bem como sua munição.
- Ele enfrentou a morte com mais dignidade do que você. – Sean era tão
implacável com as palavras quanto com os Colts.
- Os matei para saciar minha sede. – justificou-se a loira – Tenho
apenas duzentos anos, sou uma vampira jovem. Preciso de muito sangue.
- Explique-se ao Diabo. – rosnou ele.
- É dinheiro que você quer? Tenho bastante. Posso pagá-lo.
- Nunca foi pelo dinheiro. Estou aqui porque prometi a um amigo. E sou
um homem de palavra.
A chuva os encharcava naquele instante crucial. Sean apontou o Colt Dragoon para o rosto crispado de
dor da morta-viva.
Seu cérebro enviou a ordem assassina aos dedos, para que puxassem o
gatilho.
O problema é que seus dedos não obedeceram.
Uma estranha paralisia se apoderou repentinamente de seu corpo.
Conseguia mover somente a cabeça, como se seu tronco estivesse congelado.
Então, em um momento de clareza absoluta, a verdade estalou em sua
mente.
- Arahmon! – esbravejou o Renegado – Que diabos pensa estar fazendo?
Dando uma risada sardônica, a criatura mencionada materializou-se ao
seu lado.
Arahmon era o ardiloso demônio com o qual, em um instante extremo de
aflição, Sean Ridell selara um pacto diabólico, vendendo sua alma em troca de poderes
para vingar sua família massacrada por bandidos da pior espécie. A partir do
dia em que fizeram seu sombrio acordo, a terrível entidade passou a seguir o
Renegado em toda parte, como um guardião sinistro.
Geralmente ele aparecia assumindo a forma de um velho espantalho de
lavoura: alto, muito magro, cabelos pretos compridos e anelados, sobretudo
franjado e puído de couro, calças escuras, botas, chapéu e lenço no rosto.
Arahmon era um grande adepto de qualquer forma de destrutividade; por
isso, Sean não entendia a razão de o demônio intervir justo naquela hora,
quando o Renegado estava prestes a liquidar sua presa.
- Já se divertiu muito por hoje, Renegado. Como cavalheiro que sou,
não posso permitir que machuque mais essa pobre e bela dama. – zombou o demônio
com sua voz assustadoramente cavernosa.
- Seu maldito! – vociferou Sean, ainda sem conseguir se mexer.
O monstro soltou sua risada odiosa. Voltou-se então para a morta-viva
no chão. Fazendo uma reverência sarcástica, falou:
- Oh, ilustríssima senhora Lenora Von Born, filha do venerável Marquês
Radu Von Born, soberano da Transilvânia! Parecia estar em sérios apuros antes
de minha chegada. Onde está sua altivez agora, vampira?
Embora não respondesse, ela o fuzilou com os olhos, expressando o que
ainda lhe restava de dignidade.
A chuva e os ventos rugiam ao redor deles.
- Venha. – disse Arahmon, estendendo a mão para ela. – Erga-se.
Recomponha-se. Hoje é seu dia de sorte. Ou sua noite de sorte. O que preferir.
O Renegado, indignado e furioso, observava a cena sem poder fazer
nada.
Assim que Lenora se levantou, Arahmon estalou os dedos.
Na mesma hora um magnífico cavalo surgiu diante deles. Era jovem e
forte, pelo cor de chocolate, patas vigorosas e peludas, garupa larga, olhos
refulgentes como fogo. O diferencial eram as duas grandes asas de morcego que
se projetavam de seu dorso musculoso. Uma espécie de Pégaso Infernal.
Ajudando Lenora a subir em sua excêntrica montaria, Arahmon disse:
- Seu cavalo voará com você rapidamente até o cais mais próximo.
Haverá um navio apenas ancorado ali, que partirá ao amanhecer, com destino à
sua terra. Entre nele e se esconda no porão. Logo o dia vai raiar.
- Obrigada por manter seu cão longe de mim. – falou Lenora, indicando
Sean – Ele é perigoso fora da coleira.
- Sem problemas, boneca. Só não o deixe vê-la mais nesse continente.
Caso ele te encontre novamente e queira terminar o serviço, talvez eu não
esteja tão bem humorado para salvar seu lindo pescocinho uma segunda vez.
- Agradeço, Arahmon. Ninguém que ajude um Von Born fica sem
retribuição.
- Assim espero, madame. Tenha certeza que, na hora oportuna, vou
cobrar o favor. Vá agora.
O diabólico cavalo alado levantou voo, levando Lenora em segurança,
livrando-a definitivamente do alcance de Sean Ridell. Ao ter certeza de que a
vampira estava bem longe, Arahmon libertou o Renegado do feitiço que usara para
imobilizá-lo temporariamente.
Embora seus olhos cintilassem sinistramente, o homem não disse nada.
Devolveu seu par de revólveres aos respectivos coldres. Depois, assobiou para
chamar seu belíssimo cavalo, no qual montou em seguida. Enquanto subia para o
alto da sela, notou satisfeito que as costelas somente latejavam e a dor da
fratura se tornara agora suportável. Seu misterioso poder de cura acelerada,
obtido no pacto, devia estar agindo. Em breve não sentiria mais nada.
- É inútil tentar segui-la. – declarou Arahmon gravemente.
- Eu sei. – respondeu Sean de modo alarmantemente calmo – Não pretendo
ir atrás dela.
A chuva diminuíra de intensidade, mas ainda se fazia presente, regando
com suavidade o mortal Deserto de Sonora.
Arahmon sentiu-se apreensivo. Toda aquela tranquilidade não era
normal. Preferia que seu protegido estivesse esbravejando. Calmaria era sinal
de perigo iminente. Não gostava nada daquilo.
- Eu não podia permitir que você a destruísse. – começou Arahmon
cautelosamente, quase em tom de desculpas – Lenora é uma boa garota, me será
muito útil ainda no futuro. Talvez por ser uma vampira jovem, é também bastante
ingênua: devido a uma tola profecia de sua linhagem, ela cruzou o oceano, certa
de que encontraria na América seu prometido, um homem de coração puro e alma
incorruptível, que ela converteria em vampiro, desposaria e levaria para a
Transilvânia. Em tese, esse seria o escolhido para unificar e governar todos os
vampiros. Que piada! Me admira muito haver ainda criaturas das trevas dispostas
a acreditar nesses contos de fadas ridículos! Uma coisa, no entanto, eu posso
garantir, Renegado: Lenora Von Born jamais massacrará alguém nesses arredores
de novo.
- Mas graças a você, ela ainda está livre para matar outras pessoas.
O demônio abaixou a cabeça num gesto falso de arrependimento. Fechando
o punho, bateu contra o próprio peito, dizendo:
- Mea culpa! Reconheço. Espero que possa me perdoar algum
dia por isso.
Do alto de sua montaria, dirigindo-lhe um olhar indecifrável, Sean
Ridell apenas deu de ombros:
- Na verdade, não me importa. Talvez não seja aqui hoje, nem amanhã
que Lenora pagará por seus crimes. Pode ser que se passem cem anos, ou até
mais, e aconteça em outro lugar. Todavia, o que posso assegurar é que ela
encontrará alguém de coração bondoso e forte o bastante para liquidá-la. Quando
isso acontecer, o povo de Horizon e Gold Fortress e todas as pessoas por ela
assassinadas serão vingadas. Todo o sangue inocente derramado por Lenora clama
aos Céus por retribuição, e esse clamor se extinguirá no dia que a vampira for
devolvida ao inferno, de onde não devia ter saído. Nesse dia o meu amigo xerife
Carson Wayne descansará em paz, e eu finalmente terei cumprido a promessa que
fiz. E não haverá nada que você poderá fazer para impedir, Arahmon. Porque a
vida é como um ciclo – não se pode fugir das consequências. No momento certo,
você, eu e Lenora teremos exatamente aquilo que merecemos.
O Renegado fez uma curta pausa antes de concluir:
- Sabe como eu sei disso tudo? Eu sei, porque a Justiça é como Chuva
no Deserto: Pode até ser que demore, mas sempre vem.
Arahmon não teve resposta para aquilo. Tampouco Sean Ridell esperou
por uma.
Com um toque suave nas rédeas, o Renegado girou seu belo corcel e
afastou-se do sombrio interlocutor. Cavalgando, rumou para o horizonte, que já
não era mais tão escuro, porque a aurora o tingia com suas primeiras cores.
Danilo Alex da Silva
28/05/15
14 h 48 min