quinta-feira, 28 de abril de 2011

Rosas e Vida


   
Naquela tarde, enquanto observava a costumeira paisagem, um aperto tomou conta de mim. As flores me diziam algo, e por mais que eu buscasse entender tal mensagem, não conseguia. Meu coração ficava cada vez mais apertado, e como que num ato natural, comecei a chorar.
   Não sou uma garota de pretensões, tampouco penso que a vida deva ser encarada de forma banal. Acredito que cada ser humano é cumpridor de uma única e essencial função no mundo. Mas, mesmo tendo absoluta certeza disso, aquela paisagem, fazia crescer dentro de mim, uma procura pelo concreto, pelo real. Talvez minhas lágrimas revelassem o meu desejo de descobrir minha tarefa e paralelo a isto materializar aquilo que tão bem eu já compreendia.
    Enquanto da janela eu aguardava por resposta, um detalhe foi acrescentado àquela cena. Uma garotinha, que aparentemente devia ter uns cinco anos de idade aproximou-se da praça. Seu olhar era fixo às pétalas que rodeavam as rosas, e pelos gestos, ela não entendia o fato de as plantas se desmancharem. Incansavelmente, ela tentava reconstruir, em especial uma das rosas. Ajuntava as pétalas com suas mãozinhas tão delicadas e arrastava-as para perto do caule fino, mas que fortemente segurava o restante da flor. O trabalho era em vão. Por mais que ela tentasse remontar a rosa, seria inútil. Aquelas pétalas não mais voltariam. Ali ela continuou. Após um tempo, levantou-se e partiu. Eu na janela e meu coração, ainda apertado. Não demorou, a pequenina estava de volta, mas agora trazia consigo uma cerquinha que provavelmente era um brinquedo e, além disso, um véu.  Com um semblante animado, ela colocou a cerca em volta da rosa, e a cobriu com o véu que era todo furadinho. Concretizado assim o serviço, assentou-se e ficou a observar.  Era contagiante ver que, a alegria dela estava em notar que depois de seu trabalho as pétalas que ainda restavam, estavam agora protegidas e ela era a responsável por tal feito. Satisfeita, ela foi embora. Minhas lágrimas secaram.
      Incrível, como aquela criança foi importante pra mim. No anseio de descobrir o meu dever fui surpreendida por algo tão simples e significante. Aquela garota poderia ficar ali horas tentando devolver as pétalas à rosa, mas ao invés disso preferiu salvar o que restava.
      A resposta que angustiada eu procurava, havia acabado de encontrar. 
      Por toda parte, nota-se desigualdade, injustiça, tristeza, indiferença... É realmente fundamental preocupar-se com o mundo e com o nosso papel na sociedade. Mas após aquela tarde, uma certeza se formara em mim. A essencial transformação é aquela que brota do íntimo de cada ser humano. Em vão seria se tentássemos consertar o mundo. O rumo novo é encontrado a começar de nós.
      Nossas vidas não devem ser gastas na tentativa de recuperar as pétalas perdidas, e sim na busca por preservar aquelas que ainda estão na rosa.
     Agora, entendia e muito bem o que as flores queriam me dizer.
     Ainda não descobri o meu caminho. Não sei ao certo qual é a minha contribuição para o mundo. Entretanto, algo é certo: Sempre buscarei colocar meus dons à disposição do bem e da transformação. Seja qual for a minha função, quero cuidar do que é essencial, ser um canal de realizações e agir. Não somente esperar, mas, sobretudo agir!
    Afinal, há muito a ser feito e muitas rosas a serem cuidadas.



                                                                                 Thaiane de Sousa Paiva


Olá, meu povo!
Quero dedicar essa postagem à minha amiga Thaiane, a talentosa autora desse texto, que gentilmente permitiu que eu o compartilhasse com vocês.
Muito obrigado, Thaiane! Desejo que, como você mesma disse em seu texto, você continue escrevendo suas impressões, colorindo o mundo com suas palavras tocantes e comovendo os corações com sua forma tão bela de enxergar as coisas, de enxergar a vida. Deus a abençoe!

E vocês, meus amigos leitores, meus companheiros de caminhada, espero que se sintam tocados com o texto dela, do mesmo modo que eu fui e ainda sou, cada vez que leio essa linda mensagem. 

Boa sexta feira e abençoado fim de semana a todos!

forte abraço 


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Amor é Fogo

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                                                                       Luís de Camões (1524-1580)


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Chapeuzinho Vermelho Punk



kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


Já não se fazem mais contos de fadas como antigamente! 
rsrsrsrsrs




Boa semana para todos!

terça-feira, 5 de abril de 2011

O Herói do Dia (Parte Final)



O homem caído não apresentou grande melhora. Todavia, também não piorou. O fato de Gabriel ter lhe prestado os primeiros socorros fez com que seu quadro permanecesse estável até que os paramédicos chegassem. Gabriel não via mais nada. A sombra das pessoas que o cercavam não era percebida por ele, e as vozes dos presentes pareciam vir de muito longe. Mais do que nunca, o jovem suava. Concentrava todos os seus esforços em salvar a vida daquele homem, do qual nem mesmo o nome sabia. Enxergava nele o rosto de seu pai. Aquele senhor ali também devia ser pai. Devia ter alguém em casa esperando por ele àquela hora, talvez preocupado com sua demora. Ele, Gabriel, também gostaria que alguém tentasse salvar a vida de seu pai, caso ele estivesse passando por aquela situação. Em desespero, o jovem fazia a massagem cardíaca com todo o seu empenho. O almoço já não importava, nem a correria, nem mais nada.
Não ouviu quando o som estridente da sirene da ambulância encheu o ar quente e parado da tarde; muito menos percebeu quando o veículo parou com uma freada brusca quase junto de si, as luzes vermelhas e azuis alternando freneticamente. Começou a perceber a presença da ajuda médica quando dois homens vestidos de branco, com luvas de borracha, se agacharam ao seu lado, junto da vítima. Dois enfermeiros tinham aberto as portas traseiras da ambulância e se aproximavam rapidamente carregando uma maca.
Um dos paramédicos tocou-lhe de leve no ombro, dizendo:
- Tudo bem, garoto. Nós assumimos a partir de agora. Muito obrigado por ter prestado os primeiros socorros à vítima. Pela rápida verificação que fizemos, o infarto que ele sofreu foi muito forte. Então, ele não teria sobrevivido até nossa chegada sem a massagem cardíaca que você aplicou nele. Parabéns, você é um herói. – e o rosto do paramédico se enrugou um pouco. Gabriel percebeu que, pelo tom de voz do homem, aquele movimento facial indicava que ele estava sorrindo atrás da máscara de pano, que lhe encobria a boca e o nariz. O rapaz notou que os olhos do paramédico também sorriam.
- Herói? Eu? – balbuciou o jovem, confuso – Mas eu só...
Mas os paramédicos não estavam prestando mais atenção nele. Ouviu-os dizer que a vítima estava consciente, a pressão estava estável e os batimentos, embora fracos, mantinham-se constantes.
Cuidadosamente colocaram o homem sobre a maca. Gabriel finalmente se ergueu, deu um passo para trás e passou a observar o trabalho dos paramédicos. Enquanto dois deles levavam a maca para a parte traseira da ambulância, que era onde ficava o compartimento próprio para se conduzir os pacientes, os outros dois entravam na boléia do veículo e falavam com alguém pelo rádio, pedindo para que uma equipe estivesse a postos, pois dentro de poucos minutos estariam chegando ao hospital.
Quando a maca passou diante de Gabriel, o homem que sofrera o infarto fez um gesto débil para os enfermeiros, indicando que eles deveriam parar por um momento. O enfermo olhou com ternura para Gabriel por cima da máscara verde de oxigênio, e lhe estendeu a mão trêmula. O jovem estendeu também a sua. O homem apertou-lhe a mão com o máximo vigor que podia e depois acariciou-a. Era o modo de agradecer ao rapaz por ter-lhe salvo a vida. Em seguida, a maca foi conduzida para o interior da ambulância, onde os paramédicos continuariam assistindo o paciente até que o trajeto fosse concluído e o homem pudesse ser atendido no hospital por uma equipe médica que já o aguardava.
Gabriel ouviu o barulho das portas sendo fechadas. Junto com a multidão, ficou olhando enquanto a ambulância partia a toda velocidade, com seu grito estridente e suas luzes piscando nervosamente. Seguiu o veículo com o olhar, até que o mesmo dobrasse a esquina, entranhando-se no trânsito caótico da capital.
Depois disso, Gabriel abaixou-se para apanhar a mochila no chão. Ao levantar-se, foi surpreendido por uma chuva de palmas que espocavam de todos os lados. Surpreso, olhou ao redor e viu admiração no rosto das pessoas que tinham presenciado a cena.
- Você é um herói, meu filho. – disse uma senhora, enxugando os olhos úmidos.
- Fico feliz que no mundo ainda existam pessoas como você. – ajuntou um homem – Apesar da violência e dos problemas de todos os dias, ainda há quem faça o bem.
- Ei, moço, uma foto para o jornal! – disse um indiscreto, já acionando a máquina fotográfica.
Talvez outro jovem tivesse gostado de toda aquela bajulação. Mas não Gabriel. Ele estava constrangido, não fizera nada para aparecer. Apenas seguiu seu coração e deu o seu melhor para alguém que precisava. Colocou a mochila de volta nas costas e, sem dizer palavra, afastou-se caminhando.
- Não vai nem dizer seu nome para por na matéria do jornal? – ainda gritou o homem que empunhava a câmera.
Mas Gabriel não respondeu, apenas afastou-se.
Não, ele não se teletransportou. Nem saiu correndo rápido como um raio. Não se balançou em teias, muito menos levantou vôo com um sorriso nos lábios. Gabriel Fontes apenas se afastou a passos rápidos, pois lembrara que o tempo corria contra ele. Terminou aquele dia sem ter almoçado direito, chegou atrasado ao serviço e tomou uma bronca do chefe. Mas ele não se importou, estava feliz e carregava no peito a sensação do dever cumprido. Ele era apenas Gabriel Fontes, tinha vinte anos e cursava Administração. No entanto, para aquele homem que infartou no meio da rua, Gabriel era o Herói do Dia. Graças àquele jovem, à sua vontade de ver o outro bem, o homem sobreviveu ao que parecia uma infarto fulminante e pôde voltar para sua família.



Danilo Alex 




Curiosidade: Este conto foi inspirado no título de uma música do Metallica. O nome da música também é Hero of the Day (O Herói do Dia)








Salve, galera do meu coração! Eis o texto! Espero que tenham gostado. Afinal, para ser o Herói do Dia para alguém, não é preciso muita coisa, apenas boa vontade, né? Dizem por aí que amar é decisão. E heróis são todos aqueles que fazem o que é preciso. Salva-se uma vida não apenas com primeiros socorros, mas de vários outros modos, como por exemplo: sorrindo para os outros, parando para ouvir, enxugando a lágrima de alguém. Pequenos gestos que tem grandes efeitos. Que tal tentarmos sermos Heróis e Heroínas do Dia para nosso próximo? Agora mesmo deve haver alguém precisando da sua ajuda, talvez sofrendo em silêncio. Tudo será melhor se dermos o nosso melhor. 


Deus os abençoe! Bom restante de semana!


abraços




Danilo

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Herói do Dia (Parte II)





Gabriel estava lívido.
Ouviu quando disseram perto de si:

- Pobre homem! Alguém precisa fazer alguma coisa... – e a pessoa que dissera isso olhou ao redor, como que procurando entre os presentes alguém que pudesse prestar o auxílio que o desconhecido no chão carecia. Esse foi o estopim para o jovem.
Entre os curiosos havia uma pessoa que podia salvar aquela vítima de infarto. Gabriel Fontes participara do Escotismo dos sete aos doze anos de idade. Resolutamente abriu espaço entre a multidão exigindo:
- Afastem-se, ele precisa respirar!
Agachou-se junto do homem que se debatia, ao mesmo tempo em que tirava sua própria mochila das costas. Colocou-a sob o pescoço do homem que se contorcia, para evitar que ele continuasse batendo a cabeça no chão. Depois, olhou para um rapaz que estava perto dele e perguntou:
- Já chamaram um médico?
- Bem, eu não sei...
- Chame uma ambulância, rápido! – disse o jovem estagiário de administração.
- Mas é que eu... – e o rapaz se calou diante do olhar de Gabriel, que disse com energia:
- Se você não buscar ajuda médica agora, esse homem vai morrer bem aqui.
Enquanto o rapaz saía correndo para trazer ajuda, Gabriel tentou escutar o coração e a respiração da vítima, encostando o ouvido em seu peito. Apavorado, percebeu que a pulsação estava muito fraca, e o homem respirava com dificuldade. Imediatamente Gabriel abriu a camisa do desconhecido e começou a fazer a massagem cardíaca que aprendera nos tempos de escoteiro, e que às vezes, em casa, precisava aplicar no pai. Colocou uma mão aberta sobre a outra, apoiou-a no peito do homem e começou a pressionar, contando minuciosamente, bombeando como fariam os aparelhos usados pela equipe de primeiros socorros. Fazia pequenas pausas, tapava o nariz do homem e soprava ar quente em sua boca, para que ajudasse a oxigenar, estimulasse seus pulmões que estavam falhando, juntamente com o coração. 


Continua...