terça-feira, 5 de abril de 2011

O Herói do Dia (Parte Final)



O homem caído não apresentou grande melhora. Todavia, também não piorou. O fato de Gabriel ter lhe prestado os primeiros socorros fez com que seu quadro permanecesse estável até que os paramédicos chegassem. Gabriel não via mais nada. A sombra das pessoas que o cercavam não era percebida por ele, e as vozes dos presentes pareciam vir de muito longe. Mais do que nunca, o jovem suava. Concentrava todos os seus esforços em salvar a vida daquele homem, do qual nem mesmo o nome sabia. Enxergava nele o rosto de seu pai. Aquele senhor ali também devia ser pai. Devia ter alguém em casa esperando por ele àquela hora, talvez preocupado com sua demora. Ele, Gabriel, também gostaria que alguém tentasse salvar a vida de seu pai, caso ele estivesse passando por aquela situação. Em desespero, o jovem fazia a massagem cardíaca com todo o seu empenho. O almoço já não importava, nem a correria, nem mais nada.
Não ouviu quando o som estridente da sirene da ambulância encheu o ar quente e parado da tarde; muito menos percebeu quando o veículo parou com uma freada brusca quase junto de si, as luzes vermelhas e azuis alternando freneticamente. Começou a perceber a presença da ajuda médica quando dois homens vestidos de branco, com luvas de borracha, se agacharam ao seu lado, junto da vítima. Dois enfermeiros tinham aberto as portas traseiras da ambulância e se aproximavam rapidamente carregando uma maca.
Um dos paramédicos tocou-lhe de leve no ombro, dizendo:
- Tudo bem, garoto. Nós assumimos a partir de agora. Muito obrigado por ter prestado os primeiros socorros à vítima. Pela rápida verificação que fizemos, o infarto que ele sofreu foi muito forte. Então, ele não teria sobrevivido até nossa chegada sem a massagem cardíaca que você aplicou nele. Parabéns, você é um herói. – e o rosto do paramédico se enrugou um pouco. Gabriel percebeu que, pelo tom de voz do homem, aquele movimento facial indicava que ele estava sorrindo atrás da máscara de pano, que lhe encobria a boca e o nariz. O rapaz notou que os olhos do paramédico também sorriam.
- Herói? Eu? – balbuciou o jovem, confuso – Mas eu só...
Mas os paramédicos não estavam prestando mais atenção nele. Ouviu-os dizer que a vítima estava consciente, a pressão estava estável e os batimentos, embora fracos, mantinham-se constantes.
Cuidadosamente colocaram o homem sobre a maca. Gabriel finalmente se ergueu, deu um passo para trás e passou a observar o trabalho dos paramédicos. Enquanto dois deles levavam a maca para a parte traseira da ambulância, que era onde ficava o compartimento próprio para se conduzir os pacientes, os outros dois entravam na boléia do veículo e falavam com alguém pelo rádio, pedindo para que uma equipe estivesse a postos, pois dentro de poucos minutos estariam chegando ao hospital.
Quando a maca passou diante de Gabriel, o homem que sofrera o infarto fez um gesto débil para os enfermeiros, indicando que eles deveriam parar por um momento. O enfermo olhou com ternura para Gabriel por cima da máscara verde de oxigênio, e lhe estendeu a mão trêmula. O jovem estendeu também a sua. O homem apertou-lhe a mão com o máximo vigor que podia e depois acariciou-a. Era o modo de agradecer ao rapaz por ter-lhe salvo a vida. Em seguida, a maca foi conduzida para o interior da ambulância, onde os paramédicos continuariam assistindo o paciente até que o trajeto fosse concluído e o homem pudesse ser atendido no hospital por uma equipe médica que já o aguardava.
Gabriel ouviu o barulho das portas sendo fechadas. Junto com a multidão, ficou olhando enquanto a ambulância partia a toda velocidade, com seu grito estridente e suas luzes piscando nervosamente. Seguiu o veículo com o olhar, até que o mesmo dobrasse a esquina, entranhando-se no trânsito caótico da capital.
Depois disso, Gabriel abaixou-se para apanhar a mochila no chão. Ao levantar-se, foi surpreendido por uma chuva de palmas que espocavam de todos os lados. Surpreso, olhou ao redor e viu admiração no rosto das pessoas que tinham presenciado a cena.
- Você é um herói, meu filho. – disse uma senhora, enxugando os olhos úmidos.
- Fico feliz que no mundo ainda existam pessoas como você. – ajuntou um homem – Apesar da violência e dos problemas de todos os dias, ainda há quem faça o bem.
- Ei, moço, uma foto para o jornal! – disse um indiscreto, já acionando a máquina fotográfica.
Talvez outro jovem tivesse gostado de toda aquela bajulação. Mas não Gabriel. Ele estava constrangido, não fizera nada para aparecer. Apenas seguiu seu coração e deu o seu melhor para alguém que precisava. Colocou a mochila de volta nas costas e, sem dizer palavra, afastou-se caminhando.
- Não vai nem dizer seu nome para por na matéria do jornal? – ainda gritou o homem que empunhava a câmera.
Mas Gabriel não respondeu, apenas afastou-se.
Não, ele não se teletransportou. Nem saiu correndo rápido como um raio. Não se balançou em teias, muito menos levantou vôo com um sorriso nos lábios. Gabriel Fontes apenas se afastou a passos rápidos, pois lembrara que o tempo corria contra ele. Terminou aquele dia sem ter almoçado direito, chegou atrasado ao serviço e tomou uma bronca do chefe. Mas ele não se importou, estava feliz e carregava no peito a sensação do dever cumprido. Ele era apenas Gabriel Fontes, tinha vinte anos e cursava Administração. No entanto, para aquele homem que infartou no meio da rua, Gabriel era o Herói do Dia. Graças àquele jovem, à sua vontade de ver o outro bem, o homem sobreviveu ao que parecia uma infarto fulminante e pôde voltar para sua família.



Danilo Alex 




Curiosidade: Este conto foi inspirado no título de uma música do Metallica. O nome da música também é Hero of the Day (O Herói do Dia)








Salve, galera do meu coração! Eis o texto! Espero que tenham gostado. Afinal, para ser o Herói do Dia para alguém, não é preciso muita coisa, apenas boa vontade, né? Dizem por aí que amar é decisão. E heróis são todos aqueles que fazem o que é preciso. Salva-se uma vida não apenas com primeiros socorros, mas de vários outros modos, como por exemplo: sorrindo para os outros, parando para ouvir, enxugando a lágrima de alguém. Pequenos gestos que tem grandes efeitos. Que tal tentarmos sermos Heróis e Heroínas do Dia para nosso próximo? Agora mesmo deve haver alguém precisando da sua ajuda, talvez sofrendo em silêncio. Tudo será melhor se dermos o nosso melhor. 


Deus os abençoe! Bom restante de semana!


abraços




Danilo

Um comentário:

  1. Danilo,parabéns!
    Você é um grande escritor,adorei ler "O Herói do Dia",maravilhoso...
    Abraço

    Sara

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