segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O Confronto dos Sóis - Parte II

- Não permitirei.
Ao ouvir isso, Miguel irritou-se. A sua aura ardeu como fogueira alimentada com lenha seca. O semblante tornou-se altivo e crispado. Os singulares olhos azuis encheram-se de ira e assumiram a tonalidade do mar bravio. Então elevou a voz de trovão:
- Como te atreves a falar nesse tom com teu general? Além de vosso superior, sou teu irmão mais velho. Deves me respeitar, Raguel. Quer enfrentar o julgamento por insubordinação?
- Se insistir nessa idéia, ambos seremos julgados. A ordem para virdes aqui partiu do Todo Poderoso?
- Por que me pergunta isso? Não estavas tu junto de mim quando falamos com o Pai? Também vistes Seu rosto glorioso impassível, o modo como meneou a cabeça sublime e permaneceu quieto, meditativo. Ultimamente Elohim está perturbadoramente silencioso, como não fazia há muito. Lembra-te? Só O vimos assim duas vezes antes: quando Sammael se insurgiu contra Ele, e quando o Cristo experimentou na própria carne a dor e a morte.
Raguel assentiu com a cabeça, seus longos e sedosos cabelos negros se agitando na brisa trazida com o início da noite. Disse:
- Exatamente como eu dizia, tu estás agindo por si próprio. Agora mesmo admitiste que Adonai não se pronunciou a respeito. A ordem não veio do Santo dos Santos.
O tom severo e ameaçador de Miguel suavizou-se até sua fala imponente se tornar um murmúrio suplicante:
- Preciso fazer algo, Raguel. Lúcifer está vindo. O momento final se aproxima, assim como a última guerra. Tenho de achá-lo antes de nosso Adversário. Ele precisa me ajudar a enjaular Lúcifer, o arcanjo caído que foi chamado por nós de Sammael enquanto despencava do firmamento devido sua infidelidade ao Criador de todas as coisas.
- E o que adiantaria se ele decidisse auxiliar-te a prender Satã? O que ele obteria com isso, Miguel? Em sua decisão sem volta, ele não pode ser perdoado pelo Pai, e não deseja se unir a Lúcifer. A ele cabe apenas aguardar o Grande Julgamento.
- Quem pode saber, Raguel?  Yahweh é misericórdia.
- Sim, Miguel. Mas Ele também é justiça, e não admite ter Sua autoridade questionada. 
- Raguel, não seja tão inflexível. O silêncio de Deus é preocupante, pois claramente indica que estamos às vésperas de um grande acontecimento. Quando a última trombeta soar, Azrael, o arcanjo da morte, será libertado. Ele e suas legiões de anjos exterminadores acorrentados nas margens do grande Eufrates se erguerão e dizimarão um terço da população do mundo. E este será o Apocalipse descrito por João. Eis que será o início do fim.
- Se assim foi anunciado, assim terá de acontecer. Não podemos mudar o curso da História, antecipadamente traçado por nosso glorioso Pai. Precisamos confiar Nele, Miguel. Ele sabe e pode todas as coisas.
- Sabe o que pode acontecer se Sammael arrastar nosso irmão exilado para o lado negro, Raguel? Eu serei destruído. Essa será a vingança de Lúcifer contra mim, por tê-lo expulso do Reino de Luz, a santa morada do Altíssimo. Nosso irmão exilado é mais poderoso do que eu, e do que Lúcifer. Uma vez eu estando morto, acha que pode ocupar meu lugar, Raguel? Assumir todas as responsabilidades? Se eu for eliminado, a guerra estará perdida.
- Deus não permitirá que você tombe em combate, Miguel.
Subitamente Miguel ergueu a cabeça com imponência; seus olhos azuis flamejavam, transbordando determinação:
- Estou farto de explicar meus motivos, Raguel. Tu és um príncipe assim como eu, mas estás sob meu comando. Não tenho obrigação de justificar perante ti as minhas atitudes. Saia de meu caminho.
Quando o Príncipe dos arcanjos tentou passar, Raguel se posicionou à sua frente, seus dedos longos e luminosos tocando sem hesitação o cabo ornado da espada milenar, a qual trazia na cintura. Era um aviso.
- Como ousa? Se sacar a sua lâmina, não haverá mais volta, Raguel. Não desejo cruzar espada contigo. Deixa-me passar em paz. Não anseio lutar com um irmão que esteve ao meu lado em tantas batalhas importantes. Já basta todo o sangue dos anjos revoltosos que tive de derramar quando Lúcifer se voltou contra o Pai. Não vê que estamos perdendo tempo precioso? Se tu e eu lutarmos um com o outro, a vitória já começa a ser conquistada por Sammael, o arcanjo das trevas. Devemos estar unidos para vencer. E necessitamos de todo auxílio possível.
- Vamos embora, Miguel. – suplicou Raguel – Regressemos juntos para nosso Lar Celestial e peçamos orientação ao Governador do Universo.  
Miguel não disse nada. Em resposta, vibrou suas alvas, imensas asas e alçou vôo, tentando passar sobre o irmão. Percebendo sua manobra, Raguel estendeu também suas majestosas asas prateadas e adejou veloz como o raio, interceptando pelo ar a passagem de seu general. Enquanto subia, surpreso, notou que Miguel o esperava de arma em punho. Com sua velocidade antinatural, Raguel sacou também sua espada e aparou o golpe, bem a tempo de evitar que sua cabeça fosse brutalmente decepada pelo irmão. As lâminas se chocaram pesadamente no ar e fizeram chover faíscas. O som das espadas celestes se batendo ecoou como o de um trovão, o que fez com que os mortais nas proximidades se detivessem por um instante e perscrutassem o céu, à procura de nuvens escuras.
Batendo as asas para se manter no ar, os arcanjos se fitavam. Raguel abriu os braços e permaneceu um momento em forma de cruz nas alturas. Seus lábios divinais se moveram proferindo uma oração enoquiana. Em poucos segundos um vento súbito e vigoroso agitava suas madeixas negras e lisas. O céu da noite paulistana tornou-se escuro como o breu e inúmeros trovões reboaram sucessivamente. Estava invocando uma tempestade.
Miguel apenas o fitava com olhos insondáveis e aguardava. A sua espada, a lendária Flamígera, estava segura em suas mãos firmes. A lâmina fabulosa, envolta em uma chama potente e mística.  Parecia uma arma forjada de fogo puro.
Ventos fortíssimos começaram a soprar de todos os cantos e pesadas gotas de chuva despencaram das nuvens negras que instantaneamente amortalhavam o céu. Outdoors, toldos, cartazes, faixas, postes de luz, pessoas. Tudo e todos tremiam sob a força do vento impetuoso recém chegado, que percorria uivando a Avenida Paulista em toda a sua extensão. A chuva agora era torrencial. Os trovões e relâmpagos, praticamente ininterruptos. As pessoas fugiam do temporal, buscando proteção sob toldos de lona e marquises de concreto. Saiam do raio de ação dos arcanjos, exatamente como Raguel desejava. Não era sua intenção ferir os seres humanos. Então, sob o aguaceiro que o encharcava, com ambas as mãos, ele segurou firmemente a sua espada Ira Dei, ou A Ira de Deus, cuja lâmina portentosa despendia eletricidade. O poder do raio percorria e energizava a espada do arcanjo Raguel. Então, ele se moveu. Foi a vez de Miguel se defender. O metal rangeu sob o metal. O estrondo novamente assimilando-se a um trovão. 


Continua... 


Por Danilo Alex da Silva



Glossário angelical

Elohim
 Este é o primeiro nome de Deus encontrado nas Escrituras (Gênesis 1:1), e aqui o nome encontra-se em sua forma plural, mas o verbo continua no singular, indicando a pluralidade das pessoas na unidade do Ser. Denota a grandeza e o poder de Deus. Encontra-se somente no relato da criação (Gênesis 1:1-2:4); é o Seu nome de criação. Elohim é sempre traduzido no português, como Deus em nossa Bíblia. De acordo com a opinião mais ponderada entre os estudiosos, esta palavra é derivada duma raiz na língua árabe que significa "adorar"

Sammael

Segundo a etimologia, Samael significa Veneno (Sama) de Deus (El). Também é chamado de acusador, sedutor, deus-cego e destruidor. Na Cabala era um dos sete Anjos que estavam diante do Trono de Deus (Apocalipse 8) e são representações dos Poderes Divinos. Tais poderes cósmicos podem ser polarizados tanto positiva quanto negativamente dentro do ser humano. A Polaridade negativa da energia cósmica de Samael é simbolizada por um anjo caído, cuja consorte é Lilith. Samael corresponde a Sefirot Hod, significando "o mentiroso". Segundo as tradições cristãs canônicas, Samael era Lúcifer (Portador de Luz), o anjo que estava mais próximo de Deus. Ao querer usurpar o trono de Deus fazendo-se igual a Ele, reuniu um terço das milícias celestes e travou uma batalha com as hostes angélicas fiéis, sendo derrotado depois de uma dura batalha contra o arcanjo Miguel (cujo nome no original é Mikha'El e significa "Quem é como Deus?") sendo precipitado no Hades (Inferno).

Enquanto caía no Tártaro, Miguel e os anjos fiéis bradaram: Samael! Samael! Samael! Aludindo à queda daquele que desejava ser como Deus, mas havia se transformado em Satanás.

No Livro de Jó encontra-se a afirmativa de que Satanás estava a rodear a Terra (Jó 2:2).



Adonai

Este nome de Deus está no plural, denotando assim a pluralidade das pessoas na Divindade. É traduzido como Senhor em nossa Bíblia e denota uma relação de Senhor e escravo. Quando usado no possessivo, indica a posse e autoridade de Deus.

Yahweh


Este é o mais famoso dentre os nomes de Deus e é predicado dele como um Ser necessário e auto-existente. O significado é: AQUELE QUE SEMPRE FOI, SEMPRE É E SEMPRE SERÁ. Temos assim traduzido em Apocalipse 1:4: "Daquele que é, e que era, e que há de vir".
Yahweh é o nome pessoal, próprio e incomunicável de Deus. No Salmo 83:18 lemos: "Para que saibam que tu, a quem só pertence o nome Yahweh, és o Altíssimo sobre toda a terra". Os outros nomes de Deus são às vezes empregados a criaturas, mas o nome Yahweh é usado exclusivamente para o Deus vivo e verdadeiro.
Os judeus tinham uma reverência supersticiosa por este nome e não o pronunciavam quando na leitura, antes o substituíam por Adonai ou Elohim. Este é o nome de Deus no concerto com o homem. Aparece aproximadamente sete mil vezes e na maioria é traduzido como "Senhor". Como já dissemos ele inclui todos os tempos; passado, presente e futuro. O nome vem de uma raiz que significa "Ser."

Azrael

Diz-se que esse é mesmo o arcanjo da morte, servo de Deus, encarregado de levar as almas ceifadas ao Todo Poderoso.

Eufrates

Rio Eufrates (nome tradicional, em aramaico Frot/Frat, Persa antigo Ufrat, em árabe نهر الفرات, e em turco Fırat), é um dos rios que formam a Mesopotâmia juntamente com o Rio Tigre, onde hoje é o atual Iraque.
No Antigo ou Primeiro Testamento é descrito como o local de onde surgiam os inimigos. O Eufrates também é mencionado no livro de Apocalipse, como foi descrito no conto. 

Enoquiano

É um nome relacionado com ocultismo ou língua angélica, tendo sido criado por John Dee e seu assistente Edward Kelley no final do século XVI. Segundo Dee, essa língua teria sido revelada por anjos.
Aguns praticantes contemporâneos de magia, como Aleister Crowley consideram o enoquiano uma língua útil para ser usado em rituais mágicos, enquanto outros afirmam ser ela apenas mais uma língua artificial, pobre imitação de línguas antigas com semelhanças com a gramática inglesa.
As anotações de Dee não descreviam a língua como "Enochian", tendo preferido usar "Angelical", "Celestial Speech", "Language of Angels", "First Language of God-Christ", "Holy Language", ou "Adamic Language" pois, de acordo com os anjos que visitaram Dee, essa língua foi usada por Adão no paraíso para nomear as coisas. O termo "Enochian" advém da notação de Dee que o patriarca bíblico Enoque, ancestral de Noé foi o último humano antes dele (Dee e Kelley) a conhecer a língua.

Flamígera

Espada do arcanjo Miguel, cuja lâmina é feita de fogo, uma chama que se revolve continuamente. Com ela, Miguel expulsou Lúcifer e seus anjos rebeldes do Paraíso. 

Raguel

Segundo o livro apócrifo de Enoque, é o arcanjo responsável por executar a punição divina. Senhor dos trovões e tempestades. Seu nome vem do hebraico, e significa "Amigo de Deus"

Miguel

É o arcanjo mais poderoso criado por Deus. Após a Rebelião no Paraíso, ocupou o lugar de Lúcifer como braço direito do Todo Poderoso. É o general do Céu, líder das tropas celestes. Fiel a Deus, ele e suas hostes lutaram e expulsaram Lúcifer e seus seguidores. Arcanjo do arrependimento e da justiça. Seu nome vem do hebraico, e significa: "Quem é como Deus?"


Principais fontes:

Livro apócrifo de Enoque

Bíblia Sagrada, Livro de Apocalipse

A Batalha do Apocalipse - Eduardo Spohr

Internet:

Wikipédia

www.palavraprudente.com.br



Oi, meu povo! Como estão?
E ai, gostando da história? 
Se sim, você não pode perder a terceira e última parte de O Confronto dos Sóis.
Em breve, aqui no Caçador de Palavras. rsrsrs

Boa semana!

abraço

Nenhum comentário:

Postar um comentário