“Um rodopiar da
corrente, a escuridão, a chuva
A fúria, a dor e o seu
poder que surge,
Matador de Vampiros!”
(Vampire Killer –
Battleroar)
Lentamente
os três vampiros se voltaram e fixaram um olhar embasbacado na silhueta do
jovem que se achava a poucos metros deles. Um rapaz de estatura mediana,
bastante musculoso e metido em roupas escuras de couro os fitava de volta de
modo despreocupado, com um meio sorriso flutuando nos lábios. Então os três
monstros se entreolharam significativamente. Aquele devia ser apenas mais um
maluco; um boyzinho metido a motoqueiro que enchera a cara e estava à procura
de encrenca.
Julian
riu daquele trio de patetas. Eram mesmo novatos, não sabiam realmente onde
estavam se metendo. Não faziam ideia de que estavam a caminho da destruição final
e total. Devido àquela noite, por estarem naquele lugar, na presença de Julian,
a juventude eterna e a imortalidade não eram mais uma opção para eles.
-
Perdeu o amor que tem à sua vida, pirralho? – rosnou o vampiro que perguntara à
mulher se ela tinha fogo – Isso é uma conversa entre adultos; dê o fora daqui
antes que se machuque.
Ignorando
deliberada e atrevidamente o aviso do ser das trevas, Julian deu vários passos
em direção ao grupo de atacantes. Do chão, a mulher assistia a tudo
completamente estupefata. A garoa irritante, descendo em redemoinhos pela noite
fria, encharcava a todos.
-
Vocês são muito ousados em vir caçar justamente aqui. – disse Julian enquanto
se aproximava, as mãos pendentes ao longo do corpo, como um cowboy prestes a
entrar em duelo.
Ignorando
os inimigos que o fitavam com olhos chamejantes de ódio e expondo seus
diabólicos dentes pontiagudos de predadores noturnos, Julian se deslocava rumo
a eles sem pressa nem medo.
-
Estou aqui tentando entender o que os trouxe a estas paragens, perto de um
templo. Só há duas opções para explicar isso: ou vocês são muito corajosos, ou
muito tolos.
Pousando
os tranquilos olhos castanhos nos inimigos que o encaravam rosnando, o rapaz
deu de ombros e acrescentou:
-
Enfim, tanto faz. O motivo não fará diferença quando eu enterrar a estaca em
seus corações.
-
Disse a formiga aos três leões... – debochou um dos vampiros e os outros riram.
Então,
os monstros se esqueceram da mulher caída por alguns instantes e se voltaram
para o jovem que os confrontava de maneira tão suicida. Queriam beber de suas
veias primeiro. Depois, pensariam novamente na mulher, que naturalmente não
iria a lugar algum, estava apavorada demais para tal. Percebendo que os
demônios chupa-sangue vinham em sua direção, Julian fechou os olhos por um
instante, para surpresa de seus inimigos.
O
jovem incompreensivelmente abaixou a cabeça e cerrou os olhos. Sua figura era
imponente, lembrava o poderoso arcanjo Miguel em adoração a Deus enquanto
esmagava com o pé a cabeça do Diabo, como se vê nas pinturas onde os artistas
retratam essa épica luta entre o Bem e o Mal.
Subitamente
Julian abriu os olhos e ergueu a cabeça, cravando seu olhar diretamente nos
olhos mortos das criaturas. Algo nele parecia diferente; os monstros viam uma
divina aura de fogo emanar do caçador, como se ele tivesse sido celestialmente
iluminado. O olhar que lançou aos adversários os paralisou por instantes.
Traçando em sua própria testa o sinal da cruz com o polegar, Julian recitou:
-
“Bendito seja o meu Senhor, meu rochedo,
que treina minhas mãos para a batalha, meus dedos para o combate.”
O
guerreiro de Deus estava pronto para o confronto. Os vampiros o fitavam com um
misto de assombro e temor, pensando que talvez tivessem se enganado a respeito
daquele jovem mortal. Suas unhas se transformaram em garras funestas, e os
monstros se retesaram, prontos para saltar sobre o rapaz. Temendo pela vida de
seu louco salvador, a mulher começou a mover os lábios em uma aflita prece
silenciosa.
O
primeiro vampiro saltou, atacando de forma veloz e selvagem como um leão da
montanha, mas Julian estava atento. Antes que a fera o alcançasse, algo zuniu.
Um shuriken, com um giro sibilante,
cortou o ar e o peito do monstro. Quando as pontas da lâmina se cravaram no
corpo da criatura, a mesma ganiu e caiu pesadamente de costas, envenenada pela
prata injetada em si pelo pequenino, porém poderoso artefato arremessado pelo
caçador.
Vendo
o primeiro inimigo tombar fora de combate, Julian entrou em posição de luta e
ergueu as mãos para proteger a guarda, esperando a investida do próximo
adversário, que não demorou a acontecer. Apesar da imensa surpresa por ver o
companheiro cair tão logo a batalha começara, o próximo vampiro rugiu como um
leão e se atirou contra o humano. O valoroso guerreiro viu a besta crescer
diante de si e esperou até o último momento para revidar. Julian não sentia
medo ao confrontar aquele mortífero ser que se aproximava a uma velocidade
meteórica, os olhos sobrenaturalmente negros faiscando de maneira diabólica. O jovem, em plena
guerra, se encontrava firme e inabalável como os Montes de Sião.
Continua...
Danilo Alex da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário