segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ossos do Ofício - Parte II



“Um rodopiar da corrente, a escuridão, a chuva
A fúria, a dor e o seu poder que surge,
                  Matador de Vampiros!”

(Vampire Killer – Battleroar)




Lentamente os três vampiros se voltaram e fixaram um olhar embasbacado na silhueta do jovem que se achava a poucos metros deles. Um rapaz de estatura mediana, bastante musculoso e metido em roupas escuras de couro os fitava de volta de modo despreocupado, com um meio sorriso flutuando nos lábios. Então os três monstros se entreolharam significativamente. Aquele devia ser apenas mais um maluco; um boyzinho metido a motoqueiro que enchera a cara e estava à procura de encrenca.
Julian riu daquele trio de patetas. Eram mesmo novatos, não sabiam realmente onde estavam se metendo. Não faziam ideia de que estavam a caminho da destruição final e total. Devido àquela noite, por estarem naquele lugar, na presença de Julian, a juventude eterna e a imortalidade não eram mais uma opção para eles.
- Perdeu o amor que tem à sua vida, pirralho? – rosnou o vampiro que perguntara à mulher se ela tinha fogo – Isso é uma conversa entre adultos; dê o fora daqui antes que se machuque.
Ignorando deliberada e atrevidamente o aviso do ser das trevas, Julian deu vários passos em direção ao grupo de atacantes. Do chão, a mulher assistia a tudo completamente estupefata. A garoa irritante, descendo em redemoinhos pela noite fria, encharcava a todos.
- Vocês são muito ousados em vir caçar justamente aqui. – disse Julian enquanto se aproximava, as mãos pendentes ao longo do corpo, como um cowboy prestes a entrar em duelo.
Ignorando os inimigos que o fitavam com olhos chamejantes de ódio e expondo seus diabólicos dentes pontiagudos de predadores noturnos, Julian se deslocava rumo a eles sem pressa nem medo.
- Estou aqui tentando entender o que os trouxe a estas paragens, perto de um templo. Só há duas opções para explicar isso: ou vocês são muito corajosos, ou muito tolos.
Pousando os tranquilos olhos castanhos nos inimigos que o encaravam rosnando, o rapaz deu de ombros e acrescentou:
- Enfim, tanto faz. O motivo não fará diferença quando eu enterrar a estaca em seus corações.
- Disse a formiga aos três leões... – debochou um dos vampiros e os outros riram.
Então, os monstros se esqueceram da mulher caída por alguns instantes e se voltaram para o jovem que os confrontava de maneira tão suicida. Queriam beber de suas veias primeiro. Depois, pensariam novamente na mulher, que naturalmente não iria a lugar algum, estava apavorada demais para tal. Percebendo que os demônios chupa-sangue vinham em sua direção, Julian fechou os olhos por um instante, para surpresa de seus inimigos.
O jovem incompreensivelmente abaixou a cabeça e cerrou os olhos. Sua figura era imponente, lembrava o poderoso arcanjo Miguel em adoração a Deus enquanto esmagava com o pé a cabeça do Diabo, como se vê nas pinturas onde os artistas retratam essa épica luta entre o Bem e o Mal.
Subitamente Julian abriu os olhos e ergueu a cabeça, cravando seu olhar diretamente nos olhos mortos das criaturas. Algo nele parecia diferente; os monstros viam uma divina aura de fogo emanar do caçador, como se ele tivesse sido celestialmente iluminado. O olhar que lançou aos adversários os paralisou por instantes. Traçando em sua própria testa o sinal da cruz com o polegar, Julian recitou:
- “Bendito seja o meu Senhor, meu rochedo, que treina minhas mãos para a batalha, meus dedos para o combate.”
O guerreiro de Deus estava pronto para o confronto. Os vampiros o fitavam com um misto de assombro e temor, pensando que talvez tivessem se enganado a respeito daquele jovem mortal. Suas unhas se transformaram em garras funestas, e os monstros se retesaram, prontos para saltar sobre o rapaz. Temendo pela vida de seu louco salvador, a mulher começou a mover os lábios em uma aflita prece silenciosa.
O primeiro vampiro saltou, atacando de forma veloz e selvagem como um leão da montanha, mas Julian estava atento. Antes que a fera o alcançasse, algo zuniu. Um shuriken, com um giro sibilante, cortou o ar e o peito do monstro. Quando as pontas da lâmina se cravaram no corpo da criatura, a mesma ganiu e caiu pesadamente de costas, envenenada pela prata injetada em si pelo pequenino, porém poderoso artefato arremessado pelo caçador.
Vendo o primeiro inimigo tombar fora de combate, Julian entrou em posição de luta e ergueu as mãos para proteger a guarda, esperando a investida do próximo adversário, que não demorou a acontecer. Apesar da imensa surpresa por ver o companheiro cair tão logo a batalha começara, o próximo vampiro rugiu como um leão e se atirou contra o humano. O valoroso guerreiro viu a besta crescer diante de si e esperou até o último momento para revidar. Julian não sentia medo ao confrontar aquele mortífero ser que se aproximava a uma velocidade meteórica, os olhos  sobrenaturalmente negros faiscando de maneira diabólica. O jovem, em plena guerra, se encontrava firme e inabalável como os Montes de Sião.

Continua...

Danilo Alex da Silva

  

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