quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O Dilema de Dean Winchester - Parte II








Segurando firmemente o volante, e sem tirar os olhos da estrada, Dean Winchester viajava em velocidade moderada. O rádio rodava uma das centenas de fitas K7 do jovem caçador, as quais continham os grandes clássicos do Rock And Roll. Um solo fenomenal de uma das canções do AC/DC irradiava do aparelho, entretendo o caçador, tornando sua viagem solitária um pouco menos deprimente e enfadonha.
O sensacional Impala 67 corria majestosamente por uma rodovia deserta do interior do Colorado. A lataria negra, incansavelmente polida por Dean, reluzia intensamente sob o sol desbotado do fim de tarde.
Confortavelmente instalado atrás da direção de seu tesouro sobre rodas, Dean segurou por um momento o volante usando apenas a mão esquerda. Ato contínuo, levou a mão direita ao lado do corpo, na altura das costelas, as quais ainda estavam doloridas devido aos excessos da noite anterior. E quando se pensa em excessos da noite anterior, não estamos infelizmente falando de Myla, a bela garçonete que o atendera. Myla era um sonho. O tempo que passou com ela foi a parte feliz da noite de Dean.
A dor nas costelas derivada dos excessos se deveu à parte um pouco menos agradável da noite anterior do filho mais velho de John Winchester. E apesar de amar o que fazia, o rapaz mesmo poderia dizer que seu macabro trabalho lhe rendera aquela dor.
Voltemos um pouco no tempo, para que vocês possam entender melhor o que foi vivenciado por Dean antes de chegar àquela lanchonete.
Dean Winchester tinha sido trazido ao Colorado por dois motivos. O primeiro e mais óbvio, era ter encontrado claramente um caso para sua investigação no jornal. E o segundo, porque o Colorado estava situado coincidentemente no meio do caminho para onde ele pretendia ir, embora relutasse a todo instante e procurasse de todas as maneiras adiar isso. Sim, tinha a ver também com seu bendito dilema.
Dias antes, Dean lera e circulara em um jornal uma notícia sobre o alto índice de suicídios que estavam acontecendo em determinada esquina de Saint Beatrice, uma cidade perto de Denver, no Colorado. Até aí, tudo certo; geralmente não havia nada de sobrenatural em suicídios. Entretanto, um dos supostos suicidas, o qual sobrevivera, afirmara a um repórter que não havia se atirado na frente do carro. Fora empurrado! Declarava com veemência que amava a vida, não quisera se matar. Fora empurrado, e não estava louco.
 O depoimento da vítima (que permanecia anônima por discrição do jornal) era contraditório ao de várias testemunhas, que garantiram ter visto o homem se jogar no meio da movimentada rua, porque, no momento do ocorrido não havia ninguém junto dele. Logo, era impossível que ele tivesse sido empurrado.
Sem mais esperar, Dean entrou no Impala e rumou para o Colorado. Ele, John e Sammy já haviam investigado situações menos intrigantes. Já embarcaram em caçadas por muito menos. Todo tipo de Mal deveria ser detectado e exterminado, esse era o seu lema. Salvar pessoas. Caçar coisas. O negócio da família.
Uma vez em Saint Beatrice, dirigiu-se até a sede do jornal que publicara a notícia e insistia em manter o nome do sobrevivente em sigilo. Para conseguir obter acesso à informação que precisava, exibiu uma credencial falsa do FBI, apresentando-se como agente Lemmy Kilmister.
— Lemmy Kilmister? — estranhou o jornalista redator da matéria sobre o caso — Esse não é o nome do vocalista do Motörhead?
Dean sorrira meio sem jeito antes de responder:
— Ora, essa! Um amante do bom e velho Rock. Isso mesmo, meu coroa era um grande fã da banda. — e procurando desconversar, disse — Fico feliz em saber que ainda há quem curta boa música de verdade. Fãs de country music parecem dominar o país hoje em dia.
Com um pouco mais de paciência e persuasão, finalmente Dean conseguiu o nome do sobrevivente e o endereço do hospital onde o mesmo se achava internado.
— É como já falei para os jornalistas, e como estou dizendo agora para o senhor, agente Kilmister — explicou Roy Power, o homem que supostamente tentara se suicidar e sobrevivera — Fui empurrado. Estava parado na esquina, porque era horário de pico do trânsito. Esperava o sinal para pedestres abrir, para que eu pudesse atravessar a rua em segurança quando — juro por tudo que é mais sagrado, agente — eu senti duas mãos nas minhas costas, me lançando no meio do trânsito. Algo me empurrou na frente daquela van em alta velocidade. Eu não estou louco! Todos disseram que não havia mais ninguém comigo na esquina no momento do acidente, mas eu sei o que senti. Não enlouqueci! No momento carregava sacolas de compras do supermercado. Para que ia fazer uma coisa dessas? Tenho trinta e cinco anos. Estou no auge da minha carreira. Gozo de perfeita saúde. Tenho uma esposa que me ama, e uma filhinha linda de três anos. Por que eu iria querer me suicidar?  Nunca tive nenhum quadro de depressão ou qualquer problema psicológico dessa ordem, meu médico pode atestar isso. Nunca tomei remédios controlados, ou algo que o valha.
Os olhos do homem eram suplicantes, quase chorosos:
— Os médicos disseram que posso estar alucinando em razão do trauma, mas não estou. Falei a verdade. Por que ninguém me ouve? Você tem que acreditar em mim, agente Kilmister!
Com uma palmada amistosa no braço do homem, Dean buscou tranqüilizá-lo:
— Fique calmo, senhor Power. O senhor ajudou muito, pode acreditar. O FBI aprecia sua colaboração. Agora vou indo, está bem? Procure descansar. Preciso apenas que me diga com exatidão o dia e a hora do seu... incidente.
Roy respondeu e Dean escreveu em um bloco de notas, agradecendo em seguida.
Então o rapaz se despediu, levantou-se, encaminhou-se para a saída.
Já no umbral da porta, Dean voltou-se repentinamente, o cenho franzido como se tivesse se lembrado de algo importante.
— Desculpe incomodá-lo um pouco mais, senhor Power. Uma última coisa apenas. Dou minha palavra. O senhor disse que no momento do acidente, estava carregando sacolas de compras?
— Isso mesmo. Voltava do supermercado.
— Esse supermercado fica ali nas redondezas?
— Sim, agente.
— E foi inaugurado recentemente?
— Sim, inauguraram há coisa de um mês.
— Um mês... — repetiu Dean pensativamente — Sabe se havia algo anteriormente no local do supermercado? Se houve alguma demolição, ou algo do tipo?
— Bem, sim. No lugar havia um velho prédio condenado de quatro andares, abandonado, que costumava ser utilizado como abrigo por marginais e moradores de rua. Então, contratou-se uma empreiteira para demolir o prédio e construir no local o supermercado. Mas não entendo, agente Kilmister... Por que está perguntando isso?
Dean sorriu tranquilizadoramente:
— Especulando apenas. Nada demais, não se preocupe. Muito obrigado mais uma vez, senhor Power. Desejo a você uma boa recuperação.
— Agradeço muito, agente. Fiquei feliz em ajudar. Por minha vez, desejo sorte em sua investigação.
— Obrigado, senhor Power — disse Dean já saindo do quarto — Vou precisar mesmo.

***


Continua


Danilo Alex da Silva 

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